Tragédia no Nepal expõe os horrores do “chhaupadi”, tradição que matou mãe e filhos por sufocamento

Uma tragédia devastadora ocorrida no oeste do Nepal reacendeu o debate internacional sobre o chhaupadi, uma prática hindu ancestral que obriga mulheres a se isolarem durante o período menstrual. Amba Bohara, de 35 anos, e seus dois filhos, de 12 e 9 anos, morreram sufocados após passarem a noite em uma cabana de barro sem ventilação, onde tentavam se aquecer com uma fogueira.

Apesar de banido oficialmente em 2005 e criminalizado em 2018, o chhaupadi continua a ser praticado em comunidades remotas, como forma de preservar costumes culturais que tratam a menstruação como algo “impuro”. Durante esse período, meninas e mulheres são forçadas a dormir fora de casa, geralmente em abrigos improvisados e inseguros, sem acesso a saneamento, comida adequada ou proteção.

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Mortes que poderiam ser evitadas

Segundo as autoridades locais, Amba e seus filhos foram encontrados mortos pelo sogro na manhã seguinte. O policial Uddhav Singh Bhat confirmou que o trio faleceu por asfixia, causada pela inalação de fumaça gerada pela fogueira acesa no interior do abrigo, que não possuía janelas ou ventilação.

Essa não é a primeira vez que o chhaupadi leva à morte. Em 2017, uma adolescente foi encontrada morta após ser picada por uma cobra enquanto dormia sozinha. Em 2019, outra jovem perdeu a vida da mesma forma que Amba: sufocada pela fumaça de uma fogueira em uma cabana trancada.

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Tradição x Direitos Humanos

Durante o período de isolamento, mulheres não podem tocar em alimentos, animais ou objetos considerados sagrados. Também não podem cozinhar, frequentar a escola ou se aproximar de outros membros da família. Além disso, o isolamento as expõe ao frio, a ataques de animais, à violência sexual e à completa negligência médica.

O governo nepalês criminalizou a prática com penas de até 3 meses de prisão e multa equivalente a cerca de R$ 100, mas a fiscalização é falha e as punições raramente são aplicadas. Em áreas rurais e conservadoras, o chhaupadi ainda é defendido por líderes comunitários e religiosos.

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Clamor por justiça e mudança

Ativistas de direitos humanos classificam a prática como “violência de gênero institucionalizada” e cobram do governo medidas mais enérgicas. “O caso de Amba é mais um grito de socorro. Não podemos continuar enterrando mulheres por causa de crenças ultrapassadas”, afirmou uma representante da ONG Women for Freedom.

A morte de Amba e de seus filhos revela não apenas o peso das tradições patriarcais, mas também o fracasso das autoridades em proteger suas cidadãs. Em pleno século 21, morrer por estar menstruada é uma realidade absurda que ainda resiste — e que precisa ser enfrentada com urgência.

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