Estátua da Justiça: conheça a obra de Alfredo Ceschiatti que foi alvo do autor de atentado em Brasília
Francisco Wanderley arremessou um explosivo em direção à estátua na quarta-feira (13), na Praça dos Três Poderes. No dia 8 de janeiro de 2023, ela tinha sido vandalizada na invasão de grupos de extrema direita.

A escultura “A Justiça”, criada pelo artista mineiro Alfredo Ceschiatti, voltou a ser alvo de ataque nesta semana, no atentado realizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília. A obra, inaugurada há mais de 60 anos em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), já tinha sido vandalizada nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023.
Na noite da última quarta-feira (13), Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, arremessou um explosivo na estátua. Em seguida, lançou outros dois na direção do prédio do STF. Por fim, deitou-se no chão e acionou mais um explosivo, colocando-o atrás da cabeça (veja vídeo abaixo). Ele morreu.
Na casa alugada por Francisco em Brasília, a Polícia Federal encontrou um espelho com a seguinte frase: “Debora Rodrigues. Por favor, não desperdice batom. Isso é para deixar as mulheres bonitas. Estátua de merda se usa TNT”.

Débora Rodrigues dos Santos é acusada de ter pichado a escultura de Ceschiatti com a frase “Perdeu, mané”, durante os atentados de 8 de janeiro de 2023.

‘A Justiça’
Esculpida em granito e com mais de 3 metros de altura, a obra “A Justiça” retrata Têmis, a deusa da justiça na mitologia grega. Ela está sentada, de olhos vendados, com uma espada no colo e sem a balança nas mãos, como é tradicionalmente representada.
“A escultura da Justiça tem um simbolismo altamente importante para a sociedade como um todo, porque não há harmonia no ser humano vivendo em sociedade se não houver justiça. […] A Justiça é a teia, a rede que mantém a coesão da sociedade, porque os excessos em geral tendem a ser identificados, listados e punidos, se necessário” , afirmou o coordenador do Laboratório de Ciência da Conservação da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Souza.

A peça, instalada em 1961 na Praça dos Três Poderes, em frente ao prédio do STF, é uma criação de Alfredo Ceschiatti, que nasceu em Belo Horizonte, em 1918.
Escultor, desenhista e professor, ele estudou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e foi um dos principais colaboradores do arquiteto Oscar Niemeyer, responsável pela concepção de prédios, monumentos e palácios de Brasília.
“Nós estamos vivendo no mundo uma situação em que essas manifestações de ódio e violência estão ficando muito comuns, o que é um perigo. Nós não podemos, enquanto sociedade, considerar que esse tipo de ato são manifestações normais. […] O ataque a obras de arte significa o ataque a cultura, comunidades, ideias e conceitos”, disse o professor Luiz Souza.

A obra de Ceschiatti
O primeiro projeto de Ceschiatti em colaboração com Niemeyer foi o baixo-relevo do batistério da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, em 1944.
Ele integrou a Comissão Nacional de Belas Artes em 1960 e, de 1963 a 1965, lecionou escultura e desenho na Universidade de Brasília.
O artista, que morreu em 1989, criou várias obras expostas em prédios públicos de Brasília, como “As Iaras”, escultura de bronze do Palácio da Alvorada também chamada de “As banhistas”.

Outra obra importante do artista é “Leda e o Cisne”, que fica no pátio interno do Palácio do Jaburu.

Ele também é o responsável por uma escultura conhecida como “Anjo”, que faz parte do acervo da Câmara dos Deputados. A obra, de bronze fundido, tem 1,80 metro de altura e 1,63 metro de largura.

No salão nobre do Palácio Itamaraty, está a escultura “Duas Amigas”, que retrata duas figuras femininas jovens, de rostos idênticos, uma ao lado da outra.

Alfredo Ceschiatti também criou a escultura em bronze “Mulher Nua”, que fica em frente a um painel vermelho do artista plástico Athos Bulcão, no salão nobre do Senado Federal.

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