CARTA ABERTA

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Carta Aberta: Por Justiça para o Matheus

DF, 24 de julho de 2025 Por @simone.assuncao.33

Encontrei meu filho, depois de seis dias desaparecido, já no IML, onde fiquei a par de tudo o que havia acontecido.

Foram dias de angústia e medo, procurando em hospitais, casas de amigos, conhecidos, delegacia (onde registrei um boletim de ocorrência sobre seu desaparecimento).

Meu filho mais velho e alguns amigos conseguiram divulgar o caso na TV.

Já eu e o pai, sempre na esperança de encontrar nosso menino com vida, continuávamos a procurar, dia e noite…

Naquele sábado (22/01), dia em que o encontrei, saí cedo de casa e avisei minha mãe que iria a alguns hospitais e que, caso a resposta fosse negativa, iria ao IML. Mas, não sei por quê, não consegui. Então voltei para casa.

Ainda na rua, meu celular descarregou.

Assim que entrei em casa, minha irmã, que estava de um lado para o outro na varanda, me perguntou se algum dos meninos (irmãos, sobrinhos, amigos, que nos ajudaram a procurá-lo) havia conseguido falar comigo.

Respondi que meu celular havia descarregado. Assim que subi o primeiro degrau, a ouvi dizer:

“Como é que eu vou falar isso para ela, Deus?”

Com a voz embargada, como quando a gente tenta segurar o choro.

Ali, eu logo entendi que a notícia não era boa.

Subi até o meu quarto, coloquei o celular para carregar e, assim que ligou, ouvi a mensagem do meu filho mais velho, no grupo da família:

“Cadê minha mãe? Estou descendo para o IML. Tem uma pessoa com as características dele lá.”

Quando liguei, ouvi a resposta que jamais imaginei escutar…

Sim!! Era o meu filho!! O meu menino já não estava mais entre nós… 1f62d CARTA ABERTA1f62d CARTA ABERTA1f62d CARTA ABERTA

Um conhecido o havia encontrado e avisado a eles.

Imediatamente me dirigi para lá, torcendo para que fosse um engano, um erro. Mas NUNCA imaginei que fosse o meu menino…

Um “meninão” ainda, apesar dos seus 25 anos, cheio de vida, bom filho, amoroso, bom amigo, brincalhão… De um coração gigantesco, sempre pronto a ajudar quem precisava!!

Como eu costumo dizer: “Meu menino gigante”…

Quando cheguei naquele lugar, já havia um aglomerado de pessoas. Até o dono de uma funerária, minha irmã já havia chamado.

No dia 16/01, por volta de 23h40, um homem, conduzindo um New Beetle em ALTA VELOCIDADE, em uma via onde a velocidade máxima permitida é de 60 km/h, ALTAMENTE EMBRIAGADO, ultrapassou a faixa de pedestres onde meu filho atravessava — já quase chegando do outro lado, segundo testemunhas — e o arremessou longe.

Fugiu sem prestar socorro, abandonou o carro ao lado de uma distribuidora de bebidas, onde entrou, pegou uma “bebidinha” e saiu balançando a garrafa para o alto, como se estivesse comemorando algo…

Meu filho ainda lutou pela vida por quatro dias, sozinho, em uma UTI de hospital, porque o covarde, alcoólatra, que fugiu sem prestar socorro, alegou não saber de quem se tratava. Disse que o acompanhou no hospital e, mesmo sabendo que o desaparecimento dele era noticiado a todo momento, não teve sequer a hombridade de procurar minha família para, ao menos, nos avisar.

Três anos e seis meses se passaram, e ainda estou vagando, tentando encontrar um caminho, um recomeço…

Por vezes, ainda penso que vou acordar e tudo terá sido um pesadelo. Que meu filho logo vai entrar em casa, e tudo voltará a ser como antes.

De tudo, sabe o que é pior? Mesmo que o causador dessa dor apodrecesse atrás das grades — o que eu sei ser praticamente impossível, porque nossa justiça é falha, cheia de brechas e permissiva — a verdade é que a encarcerada sou eu.

Serei sempre eu, que não o tenho mais aqui, mas que preciso seguir, ainda que às vezes seja necessário parar, por alguns instantes, para recobrar o fôlego.

Porque a dor que carrego no peito, a saudade e a ausência do meu menino, todos os dias, têm sobre mim um peso sobrenatural. Pesa na alma!

Só quem precisou sepultar um filho, um ente querido, entende, sente e consegue mensurar o tamanho dessa dor, dessa angústia, que nem o tempo consegue amenizar.

Esse sentimento de impotência, mesmo quando todas as provas necessárias foram apresentadas.

Mas nós ainda precisamos esperar e, talvez, ver o causador dessa mutilação sair pela mesma porta que nós — livre!

Mutilados, física e emocionalmente, enquanto esses assassinos de lares continuam por aí, vivendo suas vidinhas indiferentes, como se matar, “invalidar” outras vidas fosse tão banal quanto ir até a padaria comprar um pão.

Sofremos com a lentidão da justiça, com as brechas que ela oferece aos réus, com o descaso com que tratam a nossa dor, a nossa história, os nossos mortos.

Três anos e seis meses se passaram, e ainda me pego esperando meu filho ligar ou entrar em casa fazendo aquele barulho, mexendo com os cachorros, ou me gritar do portão:

“Oh, mãnhêêêê!”

Minha filha tem cuidado de mim. Nunca larga minha mão, está sempre por perto, vigilante, como quando ele aparecia na porta do meu quarto, só colocando o rostinho para me olhar… Depois sorria.

Se demoro muito na rua, ela liga ou manda mensagem:

“Mãeee, cadê você?” ou “Mãeee, tudo bem?”

O irmão mais velho, desde que ele se foi, anda ausente. Parece que não quer mais viver…

Não participa mais das reuniões em família, não faz mais questão de estar por perto…

São raros os momentos em que estamos juntos e que consigo ver um sorriso em seu rosto.

Fica dias fechado no seu mundinho, sem pronunciar uma palavra!

Dizem que crianças esquecem fácil… Mas a nossa xourorinha (Jordanna — a única sobrinha do Matheus, de quem ela ganhou esse apelido) não o esquece.

Fala dele com tanto amor…

De vez em quando, relembra alguma situação, e a gente cai na gargalhada. Mas depois eu me recolho e choro… Choro muito!

Afinal, o titio dela não está mais aqui para acompanhá-la à escola, levá-la para dar uma volta, ou mesmo para aguentar suas chatices.

Porque o Matheus era assim: nosso menino levado da breca.

E, se não fosse assim, não seria ele.

Minha mãe sempre fala dele com tanto carinho…

Diz que perdeu a graça de assistir aos jogos do “Framengo” (como costumavam brincar).

Aliás, depois que ele se foi, raras são as vezes que ela assiste.

Nossa xourorinha é quem diz:

— “Bibi, hoje tem jogo do Flamengo.”

E ela responde: — “É?” — mas sem muito ânimo…

Ou: — “Bibi, o Flamengo ganhou!”

E então ela diz: — “Obaaa!!” — mas o que vem logo em seguida entra rasgando na alma 1f979 CARTA ABERTA

— “Matheus, essa hora estaria numa alegria, gritando ‘MENNNNGOOOOO’…”

Ah, meu menino… Tudo me lembra ele. TUDO. ABSOLUTAMENTE!

Dizem que os domingos têm um peso maior, talvez porque seja quando a família se reúne.

Mas, para mim, são todos os dias.

Porque todos os dias eu preciso acordar e lembrar que meu filho não está mais aqui, que nada do que eu disser ou fizer vai mudar essa condição.

E essa condição será PARA SEMPRE!

Meu filho não era perfeito, tinha defeitos como qualquer um de nós, mas era o NOSSO MENINO, O NOSSO AMOR, O NOSSO FILHO (meu, da Simone, e do Lindomar), GERADO NO MEU VENTRE.

Era o neto, o irmão caçula, o tio, o sobrinho, o amigo… que trouxe dias de sol para nossas vidas.

Nossa alegria, o barulho da casa… da nossa rua, quando ele vinha cantarolando ou assobiando pelo caminho, chegando em casa.

Sei que meu filho não volta mais, mas esse monstro precisa pagar pelo que fez.

Precisa entender que vidas importam.

Ele também tem uma família, tem filho, esposa, mãe, pai, talvez irmãos, tios…

Alguém que queira o seu bem, assim como nós queríamos o bem do nosso Matheus.

1f4cd CARTA ABERTA Dia 21/08/2025, às 8h30, no Fórum Des. Mª Thereza de Andrade Braga Hynes, na cidade do Guará, em Brasília/DF, acontecerá o júri (já cancelado por duas vezes), onde eu espero, de verdade, que o réu seja julgado culpado e pague pelo que fez ao meu filho. À minha família!

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