Em Unhais da Serra, um homem, uma mangueira e um cão diante do avanço implacável do fogo
O cenário em Unhais da Serra, no concelho da Covilhã, é de desespero, coragem e impotência. As chamas, que já consomem vastas áreas da região há uma semana, depois de terem começado em Piódão, no concelho de Arganil, chegaram nesta segunda-feira (19) ainda mais perto das habitações. O incêndio já percorreu seis municípios e agora ameaça diretamente casas e um dos hotéis mais emblemáticos da vila.
A reportagem da SIC acompanhou em direto um momento que traduz o drama vivido pelas populações: um homem, visivelmente emocionado, empunhava uma mangueira diante do fogo que se aproximava perigosamente da casa de um primo e do cão que guardava a residência. “É o mínimo que consigo fazer”, disse, a voz embargada, enquanto lutava contra labaredas que avançavam mais rápido do que a água conseguia conter.
O fogo que não dá tréguas
O incêndio ganhou nova força ao atravessar a estrada e o parque de estacionamento junto ao Hotel H2O, conhecido pela proximidade às termas de Unhais da Serra. As chamas passaram literalmente por cima da estrutura, deixando hóspedes e funcionários em alerta. A visibilidade na área é descrita como “quase nula” pela repórter Catarina Terroso, que acompanhava o combate às chamas no local.
A cada rajada de vento, o cenário mudava em segundos: o fogo avançava como se tivesse vontade própria, engolindo árvores, galhos secos, pastos e qualquer obstáculo pela frente. “As chamas avançam com muita velocidade”, relatou a jornalista em direto, enquanto moradores tentavam, com baldes de água e mangueiras improvisadas, proteger o que podiam.
O drama humano
Se para os bombeiros a missão é travar o incêndio, para quem vive em Unhais da Serra a batalha é também emocional. O homem filmado pela SIC simboliza o desespero de muitos: sozinho, sem o primo em casa, decidiu enfrentar o fogo para salvar o animal e tentar proteger as paredes que guardam memórias de uma vida.
A emoção tomou conta da cena. Suado, com o olhar carregado de lágrimas e cinzas, o morador tentava explicar: “Não posso deixar arder, ele (o primo) não está cá… pelo menos o cão tem de ser salvo”. O animal, assustado, permanecia próximo à residência, latindo diante do perigo, como se entendesse que sua sobrevivência dependia daquele esforço quase desesperado.
Casas em risco e retirada iminente
Enquanto isso, as autoridades avaliavam a retirada dos cerca de 90 hóspedes do hotel. Muitas habitações estão na linha de frente das chamas, e a possibilidade de evacuação em massa paira sobre a vila. Para quem mora ali, a incerteza é angustiante: sair e perder tudo para o fogo ou permanecer e arriscar a própria vida.
Os bombeiros continuam em combate ininterrupto, mas a dimensão do incêndio e as condições climáticas tornam a tarefa hercúlea. O fogo, que começou há uma semana em Piódão, já se espalhou por seis concelhos e continua sem previsão de ser controlado.
O fogo como prova de resistência
Para quem observa à distância, Unhais da Serra tornou-se símbolo da resistência contra um inimigo incontrolável. Entre as labaredas, o gesto de um homem com uma mangueira nas mãos e um cão ao seu lado resume a luta desigual: de um lado, o fogo voraz; do outro, a determinação humana de não desistir.
Enquanto a noite cai e o cheiro de queimado cobre o ar da serra, resta à população aguardar pelo trabalho incessante dos bombeiros — e torcer para que a vida, em todas as suas formas, resista às chamas.
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