Falso médico forjou a própria morte e idoso de 99 anos foi enterrado em seu lugar em Guarulhos
GUARULHOS (SP) — Uma trama digna de filme policial foi desvendada pela Justiça paulista: um falso médico de 43 anos, Fernando Henrique Dardis, forjou a própria morte para fugir de processos por homicídio e acabou sendo “sepultado” no lugar de um idoso de 99 anos, enterrado sob identidade trocada no Cemitério Municipal Campo Santo, em Guarulhos.
A fraude, descoberta pelo Ministério Público após inconsistências nos registros do Serviço Funerário Municipal, escancarou falhas nos sistemas públicos e levantou suspeitas de conivência ou omissão de agentes envolvidos na emissão de documentos e controle de sepultamentos.
Morte forjada e tentativa de arquivar processos
Fernando Dardis é investigado por atuar ilegalmente como médico, sem diploma, em Sorocaba (SP), entre 2011 e 2012, e por envolvimento nas mortes de duas pacientes atendidas por ele. Ele responde por homicídio com dolo eventual, quando o agente assume o risco de matar.
Para escapar da Justiça, Fernando forjou a própria morte em 5 de janeiro de 2025, com atestado falso indicando “sepse” como causa, supostamente no Hospital Brás Cubas — de propriedade de sua família. O objetivo era fazer com que a Justiça arquivasse seus processos criminais. E por três meses, oficialmente, ele era considerado morto.
No sistema da Prefeitura de Guarulhos, constava que Fernando havia sido sepultado em 6 de janeiro, na sepultura 27, conjunto 9, quadra P do cemitério municipal. No entanto, esse sepultamento nunca ocorreu — ao menos não com ele.
Idoso enterrado em seu lugar
Após o Ministério Público levantar suspeitas, veio a revelação: Elias, um idoso branco nascido em 13 de julho de 1928, havia sido o verdadeiro sepultado na referida sepultura. Ele também faleceu no mesmo dia 6 de janeiro. Inicialmente, o nome de Fernando constava nos registros públicos, mas depois foi substituído pelo de Elias.
A Secretaria de Serviços Públicos de Guarulhos confirmou a troca nos documentos, mas, alegando sigilo familiar, não divulgou oficialmente o nome do enterrado. A prefeitura abriu uma sindicância para apurar responsabilidades e possível envolvimento de funcionários públicos na fraude.
MP poderá pedir exumação
O Ministério Público poderá solicitar a exumação do corpo sepultado na sepultura de Fernando Dardis para realizar exames de DNA e confirmar a identidade do morto. Funcionários do cemitério disseram que a sepultura não tem identificação e será investigado se a placa foi removida propositalmente.
Enquanto isso, Fernando permanece foragido, com mandado de prisão preventiva decretado desde maio. Em vídeo enviado ao programa Fantástico, ele admitiu que está vivo e que agiu “sozinho e em um momento de desespero”.
“Venho a público esclarecer que estou vivo. A dona Helena [paciente morta] foi atendida por mim, foi internada, passou por mais três médicos e veio a óbito. Não aceito essa acusação. Desculpa a todos os envolvidos”, disse Fernando, sem explicar quem foi enterrado em seu lugar.
Histórico de fraudes
Fernando já havia sido condenado em 2012 por porte de munição e uso indevido de distintivo da Polícia Civil. Em 2019, alterou oficialmente seu sobrenome para Dardis, herdado do pai biológico.
O caso agora poderá ser assumido pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), já que há indícios de participação de terceiros na falsificação de documentos e facilitação da fuga.
A Secretaria da Segurança Pública informou que operações de busca estão em andamento e pede que informações sobre o paradeiro de Fernando sejam comunicadas ao Disque-Denúncia, pelo número 181, com garantia de anonimato.
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