Mulher em situação de rua é queimada viva após se negar a término de relacionamento em Rio Verde
O crime brutal
Na madrugada silenciosa de Rio Verde (GO), o corpo de Monara, uma mulher em situação de rua de apenas 33 anos, foi encontrado nos fundos de um lote baldio. Em meio a uma frágil estrutura de madeira, seus restos estavam parcialmente carbonizados, expondo a brutalidade de um crime que ultrapassa a violência física e mergulha na barbárie simbólica contra mulheres vulneráveis.
A cena foi descrita por investigadores como uma das mais chocantes dos últimos anos no município, não apenas pela crueldade do ato, mas pelo contexto de abandono e invisibilidade social em que a vítima vivia.
Relacionamento marcado por abusos
Monara conheceu o suspeito há cerca de cinco meses, também em situação de rua. O relacionamento, que começou com a promessa de companhia em meio à solidão, rapidamente se transformou em um ciclo de agressões, ameaças e medo constante.
De acordo com familiares, o casal chegou a morar em uma casa pertencente ao pai da vítima, que estava desocupada. Mas esse espaço de refúgio durou pouco: dias antes do crime, o suspeito teria incendiado o imóvel após uma briga. Ele já havia ameaçado Monara com uma faca, deixando claro que não aceitaria o fim da relação.
O estopim ocorreu quando Monara decidiu se afastar definitivamente. O ato de resistência custou sua vida.
A investigação e a prisão
O Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) da Polícia Civil de Rio Verde conduziu o caso com rapidez, reunindo provas e depoimentos que apontaram o acusado como autor do feminicídio.
No dia 22 de agosto, o homem foi preso e deverá responder por feminicídio, crime cuja pena pode chegar a 40 anos de reclusão. A prisão trouxe algum alívio à família, mas não apaga a dor da perda nem a violência irreparável que Monara sofreu.
O impacto social e a urgência de políticas públicas
A tragédia de Monara não é um episódio isolado. Ela representa milhares de mulheres que vivem à margem da sociedade, sem acesso a moradia digna, atendimento de saúde, apoio psicológico ou proteção policial.
O feminicídio é a face mais cruel da violência de gênero, e quando atinge mulheres em situação de rua, revela não apenas a falha de relações interpessoais, mas também um abismo social profundo. A vulnerabilidade se multiplica: sem endereço fixo, sem rede de apoio e muitas vezes sem voz, essas mulheres se tornam alvos fáceis de agressores.
A comoção em Rio Verde reacendeu debates sobre a necessidade urgente de políticas públicas que garantam abrigos seguros, centros de acolhimento especializados e ações preventivas de enfrentamento à violência. Especialistas destacam que a ausência de proteção institucional perpetua o ciclo de violência e empurra histórias como a de Monara para o esquecimento.

Justiça e memória
Para familiares e amigos, a dor é imensa. A imagem de Monara, descrita como uma mulher doce, mas marcada pelas dificuldades da vida, agora se mistura ao clamor por justiça.
Que sua memória não seja apagada. Que Monara se torne símbolo de resistência, uma lembrança dolorosa, mas necessária, de que vidas como a dela não podem continuar sendo tratadas como invisíveis.
Sua morte não pode ser reduzida a mais uma estatística. É preciso que seu nome ecoe como alerta: enquanto o Estado e a sociedade não protegerem as mais vulneráveis, novas Monaras continuarão a morrer.
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