A morte de Sarah em Ubatuba: juventude interrompida e os ecos de uma violência que insiste em se repetir
Era para ser apenas mais uma viagem de lazer ao litoral norte paulista. Sol, praia, amigos, liberdade — ingredientes comuns nas histórias de jovens que buscam aproveitar a vida longe da rotina. Mas, para Sarah Picolotto dos Santos Grego, de apenas 20 anos, natural de Jundiaí (SP), essa viagem terminou de forma brutal, trágica e irreversível.
Na manhã de sexta-feira, 15 de agosto, o corpo da jovem foi encontrado em uma área de mata em Ubatuba (SP), após quase uma semana de buscas. A morte de Sarah não apenas chocou familiares e amigos, como também escancarou, mais uma vez, as vulnerabilidades a que mulheres jovens ainda estão expostas em situações de lazer, confiança e convivência social.
A viagem, a festa e o desaparecimento
De acordo com as investigações, Sarah viajou para Ubatuba em busca de diversão. No entanto, sua trajetória cruzou com a de um grupo de cinco rapazes, com quem teria ingerido bebidas alcoólicas e se relacionado. O encontro, que poderia ter ficado restrito a uma noite de festa, transformou-se no ponto de partida de um pesadelo.
Testemunhos e informações preliminares da Polícia Civil levantaram a hipótese de abuso sexual coletivo, uma linha de investigação ainda em curso. A dúvida, que paira como sombra sobre o caso, se soma à dor da família e ao clamor de toda uma comunidade que pede respostas.
A confissão e a descoberta do corpo
Foi um dos rapazes, um jovem de 24 anos, quem revelou a última parte da história. Em depoimento à polícia, confessou ter discutido com Sarah e, em meio ao conflito, enforcá-la até a morte. Depois, escondeu o corpo em uma área de mata.
Esse depoimento foi decisivo para que os investigadores localizassem os restos mortais da jovem. O corpo, já em avançado estado de decomposição, foi removido pelo Instituto Médico Legal (IML) de Ubatuba e, posteriormente, transferido para Jundiaí, onde a família pode providenciar o sepultamento.
Não houve velório. Apenas a despedida silenciosa, dolorosa e sufocante de quem precisa enterrar uma filha, uma amiga, uma jovem cheia de planos interrompidos. O enterro aconteceu no domingo, às 11h, no Cemitério Memorial Parque da Paz, cercado de lágrimas e incredulidade.
Prisão, audiência e indignação
O suspeito foi preso em flagrante, mas acabou solto após audiência de custódia, decisão que gerou revolta entre familiares, amigos e moradores da região. A Justiça alegou questões processuais para justificar a liberação temporária.
A liberdade do acusado, mesmo diante de uma confissão de homicídio, foi interpretada por muitos como mais um retrato da fragilidade do sistema de justiça em lidar com crimes de violência contra a mulher. A sensação de impunidade agrava a dor da família e coloca em alerta a sociedade.
As perguntas que permanecem
A Polícia Civil segue investigando o caso para esclarecer se houve, de fato, estupro coletivo e qual foi a participação dos outros quatro rapazes que estavam com Sarah na noite de seu desaparecimento. Testemunhas serão ouvidas, provas estão sendo reunidas e laudos técnicos devem ajudar a compor o quebra-cabeça.
Mas, para além do inquérito policial, a tragédia levanta questões que vão além dos autos: até quando mulheres jovens precisarão se preocupar em sobreviver ao que deveria ser apenas um momento de lazer? Até quando a negligência, a banalização da violência e a morosidade judicial continuarão ampliando o sofrimento das vítimas e de suas famílias?
Uma vida interrompida, um alerta coletivo
Sarah tinha apenas 20 anos. Tinha sonhos, tinha futuro, tinha o direito de viver. Sua morte cruel escancara a urgência de políticas públicas de proteção, de campanhas de conscientização e de medidas rigorosas contra crimes de violência sexual.
Especialistas ressaltam que a prevenção passa por informação, rede de apoio e mecanismos de denúncia que funcionem de forma rápida e eficaz. Mas também exigem que a Justiça seja implacável com os responsáveis — não apenas para punir, mas para dar um recado à sociedade de que a violência contra a mulher não pode ser relativizada.
Enquanto isso, Jundiaí chora sua filha. Ubatuba se torna palco de luto. E o Brasil, mais uma vez, se vê diante de uma pergunta que ecoa a cada nova tragédia: quem protege nossas mulheres?
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