A vida interrompida de Nicole: entre sonhos, disciplina e uma despedida precoce
Naquela noite de segunda-feira, 18 de agosto, a BR-101 parecia repetir um roteiro trágico já conhecido: mais um acidente fatal envolvendo motociclistas. Mas, desta vez, não se tratava apenas de números que engrossam as estatísticas. Era a história de Nicole Brenda, 27 anos, personal trainer, mãe, amiga, mulher de energia contagiante — uma vida interrompida no auge de seus sonhos.
O impacto da colisão foi tão violento que a moto de Nicole se despedaçou, espalhando destroços pelo asfalto da altura do bairro Praia de Fora, em Palhoça. A brutalidade da cena falava por si só, deixando claro que não houve chances de sobrevivência.
Moradora da própria cidade, Nicole era figura conhecida na região. Mais que uma profissional de educação física, ela cultivava uma comunidade virtual que ultrapassava os limites das academias. Em suas redes sociais, publicava vídeos de treinos, mensagens motivacionais e reflexões sobre disciplina e superação. Seu perfil, seguido majoritariamente por mulheres, era um espaço de encorajamento — e, ao mesmo tempo, de vulnerabilidade sincera, no qual compartilhava os desafios de ser mãe solo e, ainda assim, não abrir mão dos próprios objetivos.
Do impacto às homenagens
Logo após a confirmação da morte, a notícia se espalhou pelas redes. A última foto publicada por Nicole, à beira-mar, acompanhada de uma frase sobre gratidão e perseverança, rapidamente se transformou em um memorial improvisado. Nos comentários, amigos, alunos e seguidores deixaram mensagens de dor e saudade.
“Você era luz, Nicole. Uma inspiração para tantas mulheres que viam em você a prova de que disciplina e alegria podem andar juntas”, escreveu uma aluna.
“Uma mulher cheia de sonhos e determinação. Que injustiça tão grande com alguém tão jovem”, desabafou uma amiga próxima.
A despedida foi acompanhada por centenas de pessoas que, ainda que não a conhecessem pessoalmente, sentiam-se ligadas pela energia que ela transmitia em cada vídeo e postagem.
O alerta que insiste em ser ignorado
A tragédia de Nicole reacende um debate que insiste em voltar à pauta apenas em momentos de dor: a violência no trânsito da Grande Florianópolis. A BR-101, no trecho que corta Palhoça, é palco frequente de acidentes graves. O fluxo intenso de veículos pesados, a pressa dos motoristas e a vulnerabilidade dos motociclistas compõem uma equação que, ano após ano, cobra novas vidas.
Dados da Polícia Rodoviária Federal indicam que acidentes com motos representam parcela significativa das ocorrências fatais no estado de Santa Catarina. O perfil das vítimas é recorrente: jovens, em plena fase produtiva da vida, que deixam famílias destroçadas e comunidades em luto.
A morte de Nicole não é, portanto, um caso isolado. É um símbolo de uma realidade estrutural — a precariedade da infraestrutura viária, a falta de políticas de prevenção e, principalmente, a cultura de imprudência que ainda predomina nas estradas brasileiras.
Uma ausência que ecoa
Nicole deixa uma filha pequena, que agora crescerá ouvindo histórias sobre a mãe vibrante, disciplinada e cheia de planos que a vida não permitiu realizar. Deixa também um vazio em seus alunos, amigos e familiares, que ainda tentam entender como alguém tão cheio de vitalidade pôde se despedir de maneira tão abrupta.
Mais do que estatística, sua morte é um chamado para repensarmos o que significa circular em nossas estradas e avenidas. É lembrar que cada curva feita em alta velocidade, cada ultrapassagem arriscada, pode significar não apenas um risco pessoal, mas uma perda irreparável para dezenas de vidas ao redor.
Nicole Brenda partiu cedo demais. Mas sua história continua sendo escrita — agora, pelas vozes daqueles que a amaram, que a admiraram e que não querem que sua morte seja apenas mais um número em relatórios oficiais.
Ela se tornou símbolo de algo maior: da urgência em transformar o trânsito em espaço de vida, não de tragédias anunciadas.
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