“Era para você aprender a não recusar atestados”: a agressão que expôs a violência contra médicos no Brasil
O ambiente que deveria simbolizar acolhimento e cuidado virou palco de medo e violência. Dentro de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em São Bernardo do Campo (SP), a médica Giovana Paliares viu sua rotina ser interrompida de forma brutal.
Naquele dia, um domingo de plantão, tudo parecia dentro da normalidade até que uma paciente, Miria Fonseca Pereira, entrou no consultório. O que começou como uma queixa simples — dor no ombro, sem restrição de movimentos — rapidamente se transformou em um episódio de agressão física e psicológica que ainda ecoa na vida da profissional.
Giovana relatou que, ao negar o pedido de atestado médico por não encontrar justificativa clínica, foi surpreendida por xingamentos, seguidos de ataques físicos.
“Ela disse que era para eu aprender a não recusar atestados. Começou a gritar, me ofender e, de repente, partiu para cima de mim. Puxou meu cabelo, desferiu socos no meu rosto e corpo. Perdi fios de cabelo enquanto tentava me defender”, contou à reportagem do Fantástico.
O ataque deixou marcas visíveis — hematomas e fios arrancados —, mas também cicatrizes invisíveis: o medo e a insegurança. Desde então, Giovana não conseguiu retornar à rotina de atendimentos.
🔴 O outro lado
Miria apresentou uma versão diferente. Em nota, afirmou que a médica se recusava a atender pacientes e estaria acompanhada pelo namorado no consultório. Mas documentos oficiais desmentem: a ficha médica comprova que ela foi devidamente atendida, recebeu medicação e teve alta.
🔴 Um problema que vai além de um caso
A agressão a Giovana não é isolada. Segundo dados levantados pela reportagem, quase 15 mil médicos registraram boletins de ocorrência por violência física ou verbal no exercício da profissão nos últimos cinco anos.
Esses números revelam uma realidade angustiante: profissionais da saúde, que já trabalham sob pressão constante e enfrentam a vulnerabilidade de pacientes em dor e desespero, ainda precisam conviver com o risco de agressões dentro do espaço que deveria simbolizar cuidado.
🔴 Botão de pânico que nem sempre protege
Na UPA onde Giovana foi atacada existe um botão de emergência, conectado à guarda municipal e a empresas de segurança privada. A promessa seria resposta rápida em caso de perigo. Mas relatos de funcionários indicam que a eficácia está longe do ideal: a ajuda muitas vezes demora, tornando o recurso pouco confiável quando cada segundo conta.
🔴 Mais que números: uma crise silenciosa
O caso reacendeu o debate sobre a segurança nos ambientes de saúde. Médicos e enfermeiros relatam constantemente situações de intimidação, insultos e até ameaças de morte. O que deveria ser exceção passou a ser rotina em muitos prontos-socorros do país.
Giovana resume o sentimento que hoje a acompanha:
“Eu entrei na medicina para cuidar, não para ser agredida. A gente já carrega a responsabilidade de salvar vidas, não deveria carregar também o medo de perder a nossa.”
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