As mensagens ocultas de Bolsonaro: o plano de asilo político na Argentina que a PF trouxe à tona
Na manhã abafada de quarta-feira, 20 de agosto, a política brasileira voltou a ser atravessada por um daqueles episódios que parecem saídos de um roteiro de suspense político. Documentos, mensagens apagadas e áudios recuperados pela Polícia Federal revelaram um detalhe até então desconhecido da estratégia de sobrevivência de Jair Bolsonaro: um plano de fuga, cuidadosamente esboçado, que incluía um pedido de asilo político ao presidente argentino Javier Milei.
Segundo o relatório encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF encontrou no celular do ex-presidente um arquivo editável, redigido em linguagem formal, no qual ele se apresentava como perseguido político e pedia abrigo ao governo vizinho. O documento, embora nunca enviado, revela que a ideia vinha sendo maturada desde fevereiro de 2024.
🔴 O fio de mensagens que mudou a investigação
O inquérito começou com foco em Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente, investigado por articular, em território norte-americano, sanções contra ministros do STF. Com o avanço das apurações, o fio de mensagens apagadas — mas resgatadas pela perícia — mostrou que a rede era mais ampla. Nos diálogos, surgiam preocupações explícitas com a possibilidade de prisão, e alternativas foram discutidas: do refúgio no exterior até estratégias para adiar ou inviabilizar ações do Judiciário.
A PF concluiu que tanto pai quanto filho atuaram para obstruir investigações sobre uma suposta trama golpista. O indiciamento, tornado público nesta semana, formaliza a acusação.
🔴 Malafaia no centro do furacão
Entre os nomes que emergiram dos áudios está o do pastor Silas Malafaia, aliado histórico da família Bolsonaro. As conversas apontam que ele tinha conhecimento e participava de debates estratégicos sobre como enfrentar o cerco jurídico. Com base nas novas provas, a Justiça determinou busca e apreensão em endereços ligados ao religioso.
Ao desembarcar no Rio de Janeiro, vindo de Lisboa, Malafaia foi conduzido pela PF para prestar depoimento. A cena, registrada por câmeras e testemunhas no aeroporto, marcou um dos momentos mais simbólicos da escalada das investigações.
🔴 De tentativa de golpe a organização criminosa
O inquérito, que nasceu restrito às movimentações de Eduardo nos Estados Unidos, já não cabe mais nesse limite. A Procuradoria-Geral da República e a PF agora falam em uma possível organização criminosa dedicada a fragilizar instituições democráticas e “impedir a aplicação da lei penal”.
Para os investigadores, o pedido de asilo encontrado no celular de Bolsonaro é mais do que uma nota de rodapé: trata-se da prova documental de uma intenção concreta de fuga, reforçando a tese de que o ex-presidente buscava escapar das consequências jurídicas de seus atos.
🔴 O peso da decisão no STF
Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar em razão de outros processos, soma agora mais uma acusação à lista. O relatório da PF, recheado de novos elementos, já está nas mãos do STF, que avaliará se transforma o indiciamento em denúncia formal e quais medidas cautelares poderão ser tomadas.
O clima em Brasília é de expectativa. O caso, por seu ineditismo e gravidade, pode redefinir o futuro político de Jair Bolsonaro e de parte de sua base mais fiel.
🔴 Crônica de um desgaste anunciado
Nos bastidores, a narrativa que Bolsonaro tenta sustentar — a de vítima de perseguição política — encontra eco apenas entre seus seguidores mais fiéis. Para investigadores e ministros do Supremo, o que emerge é um quadro muito diferente: o de um ex-presidente que, diante do risco de condenação, considerou atravessar a fronteira e pedir refúgio a um aliado ideológico.
É uma cena quase literária: um ex-chefe de Estado, que sempre cultivou a imagem de força e enfrentamento, redigindo em silêncio uma carta de rendição, não ao Judiciário brasileiro, mas à proteção de um governo vizinho.
Se esse pedido jamais sairia da gaveta, talvez nunca se saiba. O que se sabe, com a precisão fria dos documentos periciados, é que a ideia existiu, foi escrita e estava guardada no celular do ex-presidente da República.
Share this content: