URGENTE | O cerco a Silas Malafaia: como a decisão de Moraes acirra a guerra entre STF e bolsonarismo

Na manhã desta quarta-feira (14), o pastor Silas Malafaia acordou no centro de uma tempestade política e judicial. Um despacho assinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão imediata de seus passaportes e o proibiu de deixar o Brasil — uma medida rara, mas que evidencia o nível de gravidade que o Supremo atribui ao papel do líder religioso nas investigações sobre supostas tentativas de obstrução de Justiça.

O prazo para a entrega dos documentos à Polícia Federal é de 24 horas. Caso descumpra, Malafaia poderá enfrentar medidas ainda mais duras. A ordem é clara: nenhuma brecha para fuga, seja por aeroportos ou por fronteiras terrestres. O Ministério das Relações Exteriores foi acionado para estender a restrição também a controles internacionais, uma blindagem que ecoa o caso de Carla Zambelli (PL-SP), que cruzou a fronteira com a Argentina antes de ser obrigada a retornar ao Brasil.


Mais do que passaportes: o isolamento político e digital

A decisão vai além da questão migratória. Moraes impôs ao pastor uma espécie de quarentena política. Malafaia está proibido de manter contato com todos os investigados ligados ao núcleo bolsonarista, inclusive o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se encontra nos Estados Unidos. O detalhe chama atenção: a vedação vale não apenas para interações diretas, mas também para mensagens enviadas por terceiros, o que indica a preocupação do Supremo com eventuais articulações subterrâneas.

Na avaliação de Moraes, Malafaia não é um coadjuvante. O ministro cita relatórios da Polícia Federal que descrevem uma “campanha criminosa” de obstrução das investigações, marcada por pressões, ataques virtuais e tentativas de desacreditar ministros do STF. As provas, segundo o despacho, revelam risco de “dano grave ou de difícil reparação” caso o pastor mantivesse plena liberdade de atuação.


O elo entre púlpito, política e redes sociais

A representação da PF vai além. Aponta que Malafaia teria influência direta sobre as estratégias digitais do ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive em publicações feitas em suas redes sociais. Em outras palavras: o pastor não apenas apoiava, mas também orquestrava discursos que ecoavam de Brasília a Miami, num fio contínuo entre púlpito, política e internet.

Esse ponto foi decisivo para que Moraes endurecesse as cautelares. O ministro resgatou a semelhança com o inquérito das milícias digitais, no qual já se apuram redes organizadas para disseminar ataques virtuais e desinformação.


O núcleo investigado e o alvo da PGR

No rol de investigados, Malafaia passa a dividir espaço com Eduardo Bolsonaro, o blogueiro Paulo Figueiredo e o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. O fio condutor das apurações é a atuação de Eduardo no exterior: em Washington e Miami, o deputado teria buscado apoio político e diplomático para pressionar autoridades brasileiras, em um esforço para blindar o ex-presidente e enfraquecer o STF.

A inclusão do pastor no inquérito atendeu a uma solicitação da Procuradoria-Geral da República (PGR). Moraes acatou, sinalizando que a Justiça vê em Malafaia não apenas um aliado retórico de Bolsonaro, mas um operador ativo de estratégias que desafiam o sistema judicial brasileiro.


Reações e embates à vista

A resposta do pastor não tardou. Poucas horas após a divulgação da decisão, Malafaia voltou às redes sociais, chamando Alexandre de Moraes de “criminoso” e dizendo que o ministro “deveria ser preso”. Foi mais um capítulo em uma escalada verbal que já vinha se intensificando desde os atos de 3 de fevereiro, quando ele organizou manifestações em defesa de Bolsonaro e dos réus pelos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Se a decisão do STF busca conter riscos de articulação política e digital, também projeta novos embates públicos. Malafaia, líder de uma das maiores comunidades evangélicas do país, ainda é uma voz de forte penetração nas bases bolsonaristas. Seu discurso inflamado contra o Supremo pode alimentar ainda mais o clima de confronto entre apoiadores e instituições.


Um recado direto de Moraes

Na prática, a decisão é mais do que uma medida cautelar: é um recado. Moraes quer evitar que se repitam episódios de fuga, blindar as investigações contra obstruções e, sobretudo, mostrar que a Justiça não recuará diante de pressões. O Supremo mira não apenas indivíduos, mas as engrenagens que sustentam o ecossistema político-midiático em torno de Jair Bolsonaro.

Enquanto Malafaia enfrenta o cerco judicial, Brasília observa com atenção. O caso reforça a percepção de que a crise entre STF e bolsonarismo está longe de arrefecer — e que os próximos capítulos prometem ser ainda mais turbulentos.

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