Bastidores: Bolsonaro vê favas contadas no STF e teme prisão na Papuda; aliados comparam caso a Collor e já discutem domiciliar
Nos bastidores, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admite não ter ilusões quanto ao julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Após os votos de Alexandre de Moraes e Flávio Dino pela condenação na ação da suposta trama golpista, Bolsonaro teria dito a aliados que o resultado é “favas contadas” e que será condenado.
O que mais preocupa o ex-presidente neste momento não é a decisão em si, mas o destino que pode ter após a sentença. Em conversas reservadas, ele tem questionado se será enviado ao Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, ou se, por motivos de saúde, poderá permanecer em prisão domiciliar.

O temor da Papuda
A Papuda é um dos maiores complexos penitenciários do país, com capacidade para mais de 5 mil detentos, distribuídos em quatro unidades prisionais. Embora possua estrutura médica com enfermagem, psicólogos, dentistas e assistentes sociais, Bolsonaro teme que suas condições de saúde não sejam plenamente atendidas em regime fechado.
Atualmente, o ex-presidente cumpre prisão domiciliar desde 4 de agosto e já pediu autorizações ao STF para realizar exames médicos e novos procedimentos hospitalares. Os relatos mais recentes apontam que ele sofre de crises constantes de soluço e problemas gástricos.
Aliados falam em “caso Collor”
Entre seus apoiadores mais próximos, o caminho preferencial seria a manutenção da domiciliar mesmo em caso de condenação. Eles evocam o precedente do ex-presidente Fernando Collor, condenado a 8 anos e 10 meses por corrupção na Lava Jato, mas autorizado por Moraes a cumprir a pena em casa por razões humanitárias e de saúde.
Segundo dados do CNJ, no Brasil há cerca de 235 mil pessoas que cumprem pena fora de unidades prisionais, sendo 36 mil em prisão domiciliar — a maioria em caráter provisório, mas parte em função de idade avançada ou doenças graves.
STF rejeita anistia e vê oportunismo
Enquanto isso, no Supremo, ministros acompanham com atenção os movimentos políticos que pedem anistia para os réus do 8 de Janeiro. A avaliação interna é de que há uma “coalizão oportunista” entre o Centrão e o bolsonarismo.
Para integrantes da Corte, o Centrão busca blindagem em razão das emendas parlamentares que são alvo de investigação, enquanto os aliados de Bolsonaro pressionam pelo perdão dos envolvidos nos atos golpistas.
Nos bastidores, ministros afirmam que não existe chance jurídica de o STF considerar constitucional qualquer medida de anistia nesses moldes. A leitura é que tal gesto representaria um “retrocesso democrático” e, segundo um magistrado, poderia até ser interpretado no exterior como uma vitória política de líderes populistas como Donald Trump, que já impôs sanções comerciais ao Brasil em meio ao julgamento de Bolsonaro.
Expectativa
O julgamento segue na Primeira Turma do STF, com previsão de novos votos nos próximos dias. Nos corredores de Brasília, o entendimento é de que a condenação é quase certa, restando definir apenas as penas e o regime inicial de cumprimento.
Enquanto isso, Bolsonaro e seus aliados já se articulam para transformar a possível prisão em um ato político, tentando repetir a estratégia de vitimização que marcou outros momentos de crise.
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