“A Noiva que Sabia Demais”

Desde o início, eu sabia que aquele casamento seria o palco perfeito para a verdade. Greg achava que estava no controle — mal sabia ele que era um peão no jogo que eu orquestrei com precisão cirúrgica.

Nosso casamento parecia um sonho. Greg me esperava no altar com olhos marejados, como se estivesse diante de uma bênção divina. Para ele, aquele dia selava o início de uma vida perfeita. Para mim, marcava o encerramento de uma mentira bem encenada.

A recepção foi impecável: música suave, brindes emocionados, os convidados encantados. Os pais dele me tratavam como uma filha. E eu? Interpretei o papel da noiva apaixonada com maestria. Sorri. Brilhei. Dancei. Mas por dentro, cada gesto era ensaiado, cada palavra, calculada. Tudo levava àquela noite.

Greg mal conseguia esconder a ansiedade quando os convidados começaram a ir embora. Seus toques se tornavam mais urgentes, seus olhos ardiam de desejo. Eu acompanhava cada movimento como quem assiste a um filme que já sabe o final.

Finalmente, a casa ficou em silêncio. Ele me levou até a suíte master, a mesma que seus pais nos “presentearam” como início da vida de casados. Fechou a porta com entusiasmo. O ar pareceu pesar.

“Esperei por isso o dia inteiro”, ele murmurou ao meu ouvido.

“Eu também”, respondi, com um sorriso que ele não soube decifrar.

Greg abriu o zíper do meu vestido com um carinho quase inocente. O tecido deslizou até o chão. Quando me virei, o rosto dele se desfigurou.

Ali, no meu tronco, uma tatuagem temporária — realista o suficiente para gelar qualquer alma — exibia o rosto de Sarah, sua ex-namorada. Abaixo da imagem, a frase:

“Um último gostinho de liberdade antes de ficar preso ao mesmo corpo para sempre.”

Greg cambaleou. Caiu de joelhos, pálido.

“Como… como você…?”

“Sarah quis se vingar. Me mostrou as mensagens. E eu… achei justo que você nunca se esquecesse do que fez.”

Ele tentou falar, mas antes que qualquer som saísse, passos se aproximaram. A porta se abriu. Marianne e James, os pais de Greg, entraram alarmados.

“O que está acontecendo?”, Marianne perguntou, o olhar indo direto à tatuagem.

Ela empalideceu. James ficou estático, mandíbula trincada.

“É simples”, anunciei, encarando todos. “Greg me traiu. Com a ex. Na véspera do nosso casamento.”

O silêncio caiu como uma sentença. Marianne levou a mão à boca. James fechou os punhos.

“Gregory?”, ele disse, a voz cortante.

Greg não respondeu.

“Ele dormiu com ela”, confirmei. “Achou que era a última chance de ser livre.”

Greg se virou para mim, em prantos. “Foi um erro, Lilith! Eu… eu me arrependi na mesma hora…”

“Erro?”, repeti, sem conter um riso amargo. “Você planejou. Você escolheu.”

Ele tentou se aproximar. “Me perdoa… por favor… Eu te amo.”

“Você não ama ninguém além de si mesmo, Greg.”

Ele se ajoelhou de novo, como se o chão fosse seu último refúgio. “Me dá uma chance…”

James avançou um passo. “Levante-se. E encare o que fez.”

Greg se levantou, tremendo, o terno amassado, a maquiagem borrada da vergonha.

Olhei para os pais dele com serenidade.

“Estou indo embora. Agora ele é responsabilidade de vocês.”

“Lilith, não… por favor. Me escuta…”

Já com um roupão cobrindo meu corpo e a tatuagem, fui até a porta. Antes de sair, ouvi a voz fria de James:

“Você destruiu tudo, Greg. Não se esqueça disso.”

Desci as escadas em silêncio. A cada passo, sentia o peso se dissipar.

Eu estava livre.

Livre da mentira.
Livre da dor.
Livre de Greg.

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