E agora, Moraes? A carta de Trump que sacudiu Brasília e colocou o STF no centro de um terremoto político

Na manhã cinzenta de Brasília, quando o noticiário político já fervia com a proximidade do julgamento histórico de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, uma carta vinda do outro lado do hemisfério caiu como uma bomba no tabuleiro do poder. O remetente: Donald Trump. O destinatário: Jair Bolsonaro. O intermediário: Eduardo Bolsonaro, que exibiu o documento como um troféu, um gesto de apoio vindo de um dos líderes mais controversos e influentes da política mundial.

A mensagem, assinada de próprio punho por Trump, ecoou nas redes sociais e nos corredores do Congresso como se fosse uma declaração de guerra indireta. O republicano classificou como “terrível” o tratamento dado ao ex-presidente brasileiro e não poupou menções ao ministro Alexandre de Moraes, apontado como o responsável pelas medidas que mantêm Bolsonaro em prisão domiciliar. Era mais do que solidariedade pessoal: era uma reafirmação da aliança política entre os dois ex-chefes de Estado, ambos acusados de tentar subverter instituições democráticas.

Eduardo Bolsonaro, ao revelar a correspondência, foi estratégico: descreveu o gesto como um alento para o pai, que vive isolado, proibido de dar entrevistas, de se comunicar em redes sociais ou mesmo de usar um celular. Em tom de denúncia, reforçou a narrativa de perseguição judicial. Para a militância, a carta era prova viva de que Bolsonaro não estava sozinho — e que, em sua causa, havia eco até mesmo na Casa Branca, ou ao menos em alguém que aspira voltar a ocupá-la.

Enquanto isso, no lado institucional, a realidade se mostra implacável. A Procuradoria-Geral da República não recua um milímetro na acusação de que Bolsonaro liderou um plano meticuloso para fragilizar a democracia. No documento formal que sustenta o processo, o procurador-geral Paulo Gonet detalha crimes graves: organização criminosa, tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e dano contra o patrimônio público. O caso, que será analisado pelo Supremo em setembro, pode render ao ex-presidente até 43 anos de prisão — um número que, para seus aliados, soa como sentença política; mas, para seus críticos, representa apenas a medida da gravidade dos atos praticados.

É nesse contexto que a carta de Trump ganha contornos de peça estratégica. De um lado, fortalece a narrativa bolsonarista de perseguição, ampliando o coro de que o ex-presidente é vítima de arbitrariedade judicial. De outro, coloca em xeque a soberania do processo, pois abre brecha para acusações de interferência externa. A reação não se fez esperar: analistas políticos passaram a alertar para o risco de internacionalização da crise, algo que pode fragilizar ainda mais a imagem do Brasil no cenário democrático global.

Não é a primeira vez que Trump e Bolsonaro cruzam destinos. Durante seus mandatos, compartilharam bandeiras semelhantes: conservadorismo cultural, economia liberal, ataques a organismos internacionais e discursos inflamados contra inimigos comuns — a imprensa, o Judiciário, a esquerda. Agora, ambos se veem diante de espelhos distorcidos: Trump em plena campanha para voltar à Casa Branca, carregando acusações criminais em solo americano; Bolsonaro, à beira de um julgamento que pode sepultar sua trajetória política.

Nos bastidores de Brasília, a carta já é vista como combustível para a militância bolsonarista, que deve intensificar pressões e mobilizações nas ruas. Mas o efeito pode ser ambíguo: enquanto reforça a imagem de resistência entre os fiéis, também cristaliza a percepção de que Bolsonaro é um político em choque frontal com as instituições. O eleitorado mais moderado, peça-chave para qualquer projeto político futuro, pode interpretar o gesto como mais um passo rumo ao radicalismo.

E no centro desse vendaval, está Alexandre de Moraes, ministro que se transformou em símbolo e alvo, a um só tempo. Para seus críticos, encarna a face autoritária do Supremo; para seus defensores, representa a resistência da democracia contra um projeto de ruptura. A carta de Trump, ao mencioná-lo diretamente, só amplia a pressão.

O julgamento de setembro promete ser um divisor de águas. Mais do que o destino pessoal de Jair Bolsonaro, estará em jogo a capacidade das instituições brasileiras de impor limites claros a quem tentou desafiar a ordem democrática. Nesse embate, cada gesto — até mesmo uma carta vinda do exterior — torna-se munição.

Resta a pergunta que ecoa em Brasília, repetida em manchetes e conversas reservadas: e agora, Moraes?

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