O Táxi Misterioso-“Peguei um táxi tarde da noite. Durante a viagem, o motorista começou a contar uma história que, de alguma forma, estava diretamente ligada a mim…
Era quase meia-noite quando saí do restaurante. A chuva fina caía sem pressa, e a cidade estava mergulhada naquele silêncio estranho que só existe depois das onze. Meu celular estava com 3% de bateria, então não quis arriscar pedir por aplicativo. Sinalizei para o primeiro táxi que passou.
O carro era antigo, um modelo preto com detalhes cromados. As janelas embaçadas escondiam o rosto do motorista. Entrei e disse meu endereço. O homem assentiu com a cabeça, sem dizer uma palavra. O rádio tocava uma música instrumental antiga, dessas que parecem ter saído de um filme dos anos 40.
Durante os primeiros minutos, o silêncio me incomodava. Mas então, ele falou:
— Sabe, eu tive uma passageira como você há muitos anos.
Olhei pelo retrovisor. Não conseguia ver seu rosto direito — estava parcialmente encoberto pela sombra e pela luz fraca do painel.
— Parecida como?
— Tinha o mesmo olhar. Meio perdido, meio carregado de lembranças… Ela também saía de um restaurante naquela noite, com uma decisão importante nas costas.
Meu coração acelerou um pouco.
— Que tipo de decisão?
— Ela estava pensando em se afastar da família. Algo sobre mágoas antigas, uma conversa que nunca teve coragem de ter com o pai. Você sabe… às vezes a gente passa a vida fugindo do que realmente importa.
Arregalei os olhos.
— Como você sabe disso?
Ele não respondeu de imediato. Virou uma esquina que, estranhamente, eu não lembrava de existir naquele bairro.
— Porque naquela noite, ela decidiu não fugir. Voltou para casa. E teve a última conversa com o pai antes dele morrer.
— Isso é algum tipo de brincadeira?
— Não. É só… um aviso.
O carro parou. Era a minha rua. Mas eu não tinha dado detalhes. Ele sabia exatamente onde me deixar, em frente ao portão de casa, como se já tivesse estado ali.
Virei para agradecer — ou confrontá-lo — mas o banco do motorista estava vazio.
O táxi partiu sozinho, desaparecendo na névoa da madrugada.
Na manhã seguinte, perguntei aos vizinhos se alguém mais tinha visto o carro. Ninguém viu nada. Na garagem, encontrei uma rosa seca no chão. Era a flor preferida da minha mãe, falecida há anos.
Naquela noite, peguei o telefone. Liguei para meu pai. Pela primeira vez em muito tempo, conversamos de verdade.
E nunca mais vi aquele táxi.
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