“Parece que estava sentindo”: o luto do pai pela estudante de medicina morta em acidente

Na pequena cidade de Alexânia (GO), o silêncio recente não combina com a lembrança de Paula Abrantes, estudante de medicina de 26 anos que, segundo a família, era “alegre, intensa e barulhenta”. A tragédia que interrompeu seus planos acadêmicos e pessoais no último sábado (17), na BR-060, deixou uma marca dolorosa em todos que a conheceram — especialmente em seu pai, o advogado Marco Antônio Raimundo da Silva.

Na quinta-feira (21), ainda abalado, ele abriu o coração e deu um depoimento que mistura dor, incredulidade e uma sensação difícil de traduzir em palavras. Entre lágrimas, lembrou que, dias antes do acidente, a filha parecia não querer mais retornar a Pedro Caballero, no Paraguai, onde cursava medicina.

“Dessa vez ela não queria ir embora. Todas as vezes ela queria, mas dessa vez ela não queria. Não sei, parece que estava sentindo mesmo”, disse Marco Antônio, com a voz embargada.

A despedida sem saber

O último encontro em família agora ganha um peso de eternidade. Antes de seguir viagem de volta ao Paraguai, Paula reuniu todos os parentes em frente ao mercado da família. Registrou a cena em uma fotografia, publicada nas redes sociais com a legenda simples e ao mesmo tempo definitiva: “Meu lar”.

“Ela estava com o coração doendo, queria ficar”, relembrou o pai.

Horas depois, a viagem se transformaria em tragédia. O carro em que Paula estava com o marido foi atingido de frente por uma caminhonete que invadiu a contramão. A jovem chegou a ser socorrida, mas não resistiu.

A cidade em luto

A notícia se espalhou rápido por Alexânia, onde Paula cresceu e sempre voltava para visitar a família. A comoção foi tão grande que o velório precisou ser transferido para um espaço maior, capaz de receber centenas de pessoas que queriam prestar a última homenagem.

Desde segunda-feira (18), o luto tomou conta da cidade. Amigos, ex-professores e vizinhos recordam uma jovem que vivia com intensidade rara. O pai, ainda em choque, diz acreditar que a filha parecia saber que sua vida seria curta.
“Ela era viva demais, parecia que tinha pressa de viver. Estava sempre feliz, buscando aproveitar tudo”, contou.

A vida interrompida

Paula era casada e estava prestes a concluir o curso de medicina, um sonho de infância. Segundo a família, ela já fazia planos de retornar ao Brasil para atuar como médica. A tragédia, no entanto, interrompeu a trajetória de uma jovem que, nas palavras do pai, “espalhava luz por onde passava”.

Agora, restam lembranças: o sorriso largo, a intensidade com que falava, a foto tirada diante do mercado da família, o último gesto de alguém que, mesmo sem saber, parecia se despedir.

“A Paulinha era alegria. Era vida. E eu sinto que ela sabia… sabia que o tempo dela era pequeno”, disse Marco Antônio, tentando encontrar algum sentido no que parece não ter explicação.

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