Suzane von Richthofen perde mais uma batalha: Justiça nega pedido e reforça liberdade de imprensa

Vinte e dois anos depois de arquitetar o assassinato dos próprios pais — crime que paralisou o país e nunca deixou de assombrar a memória coletiva —, Suzane von Richthofen reaparece no noticiário não como protagonista de uma nova vida, mas de mais uma derrota nos tribunais.

Desta vez, não diante da vara de execuções criminais, mas em uma disputa com a imprensa. Suzane moveu uma ação contra o jornalista Ullisses Campbell, autor do livro Suzane, Assassina e Manipuladora. O objetivo era ambicioso: silenciar o repórter, arrancar uma indenização de R$ 60 mil e obrigá-lo a se retratar publicamente por ter usado duas expressões que a incomodaram profundamente — “ilustre psicopata” e a menção ao fato de que ela vive atualmente em Águas de Lindóia, interior de São Paulo.

Mas a Justiça foi categórica. A juíza Ana Paula Schleiffer Livreri, em decisão firme, rejeitou todos os pedidos de Suzane. O argumento central: não houve ofensa fora do contexto jornalístico, mas sim exercício legítimo da liberdade de imprensa.

O peso das palavras

O termo “ilustre psicopata” foi o estopim da ação. Para Suzane, tratava-se de difamação. Para a magistrada, porém, a expressão não ultrapassa os limites legais. Mais que isso, está em sintonia com a percepção coletiva construída ao longo de duas décadas. Especialistas em criminologia, laudos técnicos e até a cobertura jornalística consolidaram a imagem de Suzane como alguém cuja frieza e manipulação chocaram até os investigadores mais experientes.

A juíza frisou que Suzane não é uma cidadã comum. É protagonista de um dos assassinatos mais emblemáticos do Brasil. Por isso, há interesse público legítimo em manter vivo o debate sobre sua trajetória, suas tentativas de reconstrução de imagem e, claro, suas idas e vindas nos tribunais.

Tentativas de silêncio

Esta não foi a primeira vez que Suzane buscou blindar-se da imprensa. Anos atrás, antes mesmo do lançamento do livro de Campbell, ela tentou impedir judicialmente sua publicação. O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, que foi claro: não cabe censura prévia.

A contradição não passa despercebida: ao mesmo tempo em que busca “paz” e privacidade, Suzane não se furta a reaparecer em entrevistas, reportagens e até em ensaios de carreira como influenciadora digital. Para a defesa do jornalista, essa exposição voluntária reforça ainda mais o direito da imprensa em retratar sua vida pública.

No que diz respeito à menção de Águas de Lindóia, a Justiça também foi direta. Não houve quebra de privacidade, pois não foram divulgados dados pessoais, endereço ou rotina. A referência ao município serviu apenas como contextualização — algo permitido, relevante e de interesse social.

Liberdade de imprensa versus direito à imagem

O embate entre Suzane e a imprensa traz à tona uma discussão crucial: até onde vai o direito à imagem de alguém condenado por um crime hediondo? Até que ponto é possível controlar a narrativa de um passado que marcou uma geração inteira?

A decisão de agora ecoa como um recado: em casos de amplo interesse público, a liberdade de imprensa prevalece. Para o Judiciário, não há como apagar a memória de um crime que chocou o país, tampouco reescrever a história sob medida para a ré.

O peso da memória coletiva

Suzane cumpriu pena, mudou de cidade, tentou trocar de nome. Mas nada disso foi suficiente para que o país esquecesse a noite de 31 de outubro de 2002, quando os pais, Manfred e Marísia, foram mortos enquanto dormiam. Ao lado do então namorado e do cunhado, ela planejou e executou um dos assassinatos mais frios e calculados já noticiados.

A cada tentativa de silenciar vozes ou reconstruir sua imagem, a Justiça relembra: há crimes que permanecem vivos não por desejo da imprensa, mas pela sua própria dimensão histórica.

No fim, a derrota de Suzane no tribunal não é apenas mais uma nota de rodapé na sua longa lista de controvérsias. É também um marco simbólico, que reafirma a importância da imprensa livre e da memória coletiva contra a tentativa de apagar ou reescrever fatos que ainda ecoam na consciência nacional.

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