Zambelli, entre a cela e o laudo: os bastidores médicos da prisão que expõe sua fragilidade

Na prisão feminina de Rebibbia, em Roma, Carla Zambelli, deputada federal pelo PL de São Paulo, vive um capítulo que contrasta com a imagem de combatividade que sempre marcou sua trajetória política no Brasil. Condenada pelo Supremo Tribunal Federal a 10 anos de prisão e agora detida na Itália, após uma tentativa frustrada de fuga, Zambelli se vê no centro de uma disputa que mistura diplomacia, política e saúde — e onde cada detalhe clínico pode pesar no futuro de sua extradição.

Um laudo pericial, elaborado a pedido de sua defesa e revelado pela coluna de Lauro Jardim em O Globo, descreve um quadro alarmante. Assinado pelo psiquiatra forense Hewdy Lobo, o documento aponta que a parlamentar sofre de “adoecimentos psiquiátricos e neurológicos graves” e necessita de “suporte multidisciplinar contínuo”. O diagnóstico não se limita a transtornos emocionais: Zambelli convive com uma combinação de depressão severa, impulsividade de difícil controle, fibromialgia e dores generalizadas, além da síndrome de Ehlers-Danlos — uma condição rara que fragiliza os tecidos conjuntivos e aumenta o risco de quedas e desarticulações.

Entre diagnósticos e rotina de cárcere

A descrição médica contrasta com as condições oferecidas pela penitenciária de Rebibbia, uma das maiores da Europa. A defesa alega que o ambiente carcerário torna inviável garantir a dieta sem glúten necessária para controlar a síndrome do Intestino Irritável, tampouco assegura o acompanhamento pós-operatório de um tumor cerebral ou a administração correta de medicamentos controlados. Há ainda o registro de que a parlamentar já precisou de intervenção cardiológica e depende de remédios específicos para evitar alterações graves na pressão arterial e no ritmo cardíaco.

O parecer, que em breve será traduzido de forma juramentada para apresentação à Justiça italiana, busca convencer os magistrados a reverem a decisão que manteve a prisão cautelar e negou o pedido de cumprimento da pena em casa.

O peso político da saúde

Mais do que um documento médico, a perícia tornou-se peça estratégica. A imagem da deputada, que por anos se projetou como uma das vozes mais estridentes da direita bolsonarista, aparece agora atravessada por um enredo de fragilidade física e psíquica. A defesa aposta que o quadro clínico poderá sensibilizar a Justiça italiana diante da possibilidade de extradição solicitada pelo Brasil.

Do outro lado, há quem enxergue no laudo uma tentativa de prolongar prazos e evitar o retorno imediato ao país, onde Zambelli foi condenada por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e fabricar um mandado falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo.

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Prisão e silêncio

Na rotina de Rebibbia, a deputada divide espaço com centenas de mulheres em regime fechado. Do lado de fora, aliados mantêm silêncio, enquanto adversários exploram politicamente a imagem da parlamentar em condição de fragilidade. A defesa insiste que, sem suporte adequado, a saúde de Zambelli corre riscos reais.

Entre a cela e os relatórios médicos, o destino da deputada se desenha em duas frentes: na esfera jurídica, onde a extradição ainda precisa ser definida; e na esfera clínica, onde sua resistência física e mental passa a ser testada dia após dia.

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